sexta-feira, 6 de março de 2009

Calando Cáli


As declarações do elenco ao longo desta última semana - Hernanes, Dagoberto e Zé Luís, para citar alguns, cobravam melhor futebol e uma equipe mais ligada no jogo durante os 90 minutos - surtiram efeito na partida de ontem, frente ao América de Cáli, pela Copa Libertadores de América. O Tricolor bateu a equipe local por 3x1, o futebol apresentado foi bem superior ao da estreia, com o time procurando as jogadas pelos lados e trocando bons passes, com mais objetividade. A equipe escarlate, ao contrário do que se esperava, foi presa fácil para o São Paulo e não passou nem pertou das tradicionais equipes colombianas, que, com a ajuda da torcida, pressionam o adversário desde o início da partida.

Em parte, a boa partida tricolina pode ser explicada por ter conseguido marcar seu primeiro gol logo com dois minutos de jogo, em belo lançamento de Jorge Wagner para Washington, que venceu o zagueiro e a indecisão do goleiro e tocou para o fundo das redes. Com o placar adverso, somado a necessidade de vitória por jogar em casa e ainda por ter estreado com derrota no torneio, o América foi tomado pelo nervosismo e tinha dificuldades em executar suas jogadas. Ao São Paulo bastou paciência para encaixar seus contragolpes e disciplina tática para ocupar os espaços no campo, pois o resultado lhe permitia atuar da maneira que mais gosta: marcando atrás e esperando o erro do adversário.

O segundo gol não demorou a sair, agora, em lançamento pela direita, executado por Hernanes, encontrando novamente Washington em disputa com a zaga adversária. O matador Tricolor tocou a bola à frente, ganhou na corrida da zaga e, em mais um lance de indecisão de Mesa, o goleiro escarlate, ampliou. O nervosismo do time de Cali era tão evidente que o goleiro e um componente da zaga quase se agrediram, após uma discussão pela falha no lance do gol.

O América errava até passes curtos, deixando a bola escapar pela linha lateral, já o São Paulo continuava a exercer boa marcação e explorar as jogadas laterais, com Júnior César aparecendo pela esquerda e Hernanes pela direita, em algumas vezes alternando com Zé Luís. Jorge Wagner cadenciava a partida para o Tricolor. O América assustava somente em jogadas de bola parada, com Rogério Ceni fazendo, pelo menos, duas belas defesas. Pelo meio, a zaga Tricolor estava bem postada, mesmo com o exagero de haver três zagueiros para o solitário atacante Adrián Ramos.

No segundo tempo, o São Paulo continuou mandando no jogo e, numa rebatida do goleiro, após defender uma bola no susto, Borges foi mais esperto e cabeceou a bola para o fundo do gol, aumentando a vantagem tricolina. O América só foi melhorar com a entrada do atacante Parra no lugar do nulo meio-campista Otalvaro e, por pelo menos dez minutos, atuou como a equipe que se esperava, pressionando o São Paulo em seu campo, chutando seguidamente ao gol e exigindo boa participação de Rogério Ceni. Em uma dessas jogadas, numa bela troca de passes pela esquerda, Cortez surpreendeu Zé Luís e marcou o único tento da equipe escarlate.

Apesar disso, não seria exagero dizer que o São Paulo poderia voltar para a casa com, além dos três imporantíssimos pontos, uma goleada histórica, visto que Washington e Borges tiveram boas chances para ampliar a contagem, agora com boas intervenções do goleiro da equipe de Cáli. A atuação dos Diabos era tão revoltante que no segundo tempo o jogo ficou paralisado por cinco minutos, devido a um princípio de tumulto causado pela torcida, que atirava rádios e garrafas no gramado. Ao final, o América buscava um gol para diminuir o seu vexame e o São Paulo tocava a bola, gastando o tempo, e esperava um erro adversário para poder ampliar o placar.

Enfim, foi uma partida onde o Tricolor foi muito bem coletivamente, variando as jogadas ao invés de apostar unicamente no chuveirinho, e não teve medo de atacar, sendo extremamente objetivo, ao invés de ter a posse de bola e, aparentemente, "não saber o que fazer" com ela.

Destaques individuais para o oportunismo de Washington, a movimentação de Borges, a atuação de Jorge Wagner, deslocando-se por todo o campo e cadenciando o jogo. Miranda, com uma marcação implacável e bom posicionamento, esteve um pouco acima do trio de zaga ontem, que fez uma bela partida. Rogério Ceni, quando acionado, foi muito bem, com defesas difíceis e passando tranquilidade para a equipe. O São Paulo se recupera do fiasco da estreia com um excelente resultado conquistado em Cáli - cabe lembrar que Muricy derrubou mais um tabu pois o Tricolor nunca venceu na Colômbia disputando o torneio - e assume a liderança do seu grupo, ao lado do Defensor-URU, adversário na próxima rodada, fora de casa, mas principalmente jogou um futebol convincente, o que deve trazer tranquilidade à equipe, diminuir a cobrança e aumentar a confiança da torcida na esperança de mais uma bela campanha no principal torneio interclubes da Conmebol.

Um comentário:

Edison Waetge Jr disse...

Belo comentário, Mateus. Também gostei do comportamento do São Paulo no jogo e da mudança de atitude dos atletas.
Porém, o fato de termos marcado o gol no início do jogo foi fundamental para que o adversário jogasse ainda mais aberto do que a proposta inicial deles, o que sempre facilita nossas ações. Creio que ainda teremos muitas dificuldades contra times que se proponham a jogar fechado contra nós o que acontecerá em 110% dos jogos no Morumbi. Resulta disso que neste ano nossos melhores jogos e resultados sempre são fora de casa. Ainda precisamos melhorar muito no quesito criatividade.